Reunidos para celebrar esta solenidade que evoca o dia de Quinta-feira Santa em que Jesus se reúne com os Apóstolos para a Última Ceia, deixo o convite a que hoje paremos um pouco para pensar na razão, ou nas razões, que nos movem até à Eucaristia. Algumas interrogações: 1. Porque vou à missa? (porque é obrigatório) 2. O que vou lá fazer? (nada) 3. Vale a pena ir à missa? (não porque as pessoas falam mal umas das outras) 4. Para que serve? (para nada porque fica sempre tudo na mesma). Certamente estas e outras já passaram pelo nosso pensamento, mas tentemos responder através da Palavra de Deus que hoje escutámos.
1. A Eucaristia/missa não é uma acção fechada
A primeira leitura do livro do Génesis recorda-nos o episódio em que o Rei de Salém (Melquisedec) sai ao encontro de Abraão trazendo-lhe Pão e Vinho: como forma de louvor pela grandeza de Deus e agradecimento pelas conquistas feitas. O sinal do Pão e do Vinho também nos transmite a ideia de que a Eucaristia não fica encerrada dentro do templo, dentro da Igreja, ela vem ao encontro das nossas necessidades e através de nós vai ao encontro das necessidades da humanidade . Esta leitura recorda-nos também um dos mais importantes significados da Eucaristia: a partilha. Aquele rei Melquisedec quis partilhar o louvor e as suas ofertas com Abraão. O que partilhamos nós uns com os outros? Por vezes pela frente somos uma coisa e por trás somos outra completamente diferente! Enquanto não aprendermos a ser realmente verdadeiros não conseguiremos aprender o valor da Eucaristia! Alguns de nós podem até partilhar actos de amor, de afecto, de amizade, mas também existe quem partilha a sua falta de carácter, a sua boa arte de maldizer, a sua falta à caridade, o seu excesso de egoísmo e de desonestidade. Claro que assim de que vale a pena ir à missa se não se escuta palavra de Deus??!
A Eucaristia é a partilha que Deus faz com todos nós: Deus partilha o seu Pão, o Seu Vinho, o Seu Amor, a sua Sabedoria, a sua Inteligência, a sua Fortaleza,... e nós, quando saímos deste templo, somos mais fortes na nossa fé e partilhamos mais uns com os outros aquilo que Deus connosco partilha?
No banquete eucarístico todos somos convidados a tomar do mesmo pão e do mesmo vinho, o convite é lançado a todos e não somente a alguns, como muitas vezes podemos pensar e até autoexcluirmo-nos.
2. A Eucaristia é tornar presente Jesus
«Isto é o meu corpo entregue por Vós» são as palavras que S. Paulo recorda do momento da Última Ceia de Jesus com a Humanidade. Nós todos já celebrámos muitas Eucaristias, mas terão sido todas elas paz verdadeira para o nosso íntimo e para a nossa vida??? Em Corinto, no tempo de S. Paulo, havia discórdia entre cristãos. Estas discórdias tornavam-se escandalosas mesmo no momento da Eucaristia. (imagine-se o desrespeito e desinteresse que se tem muitas vezes nestas celebrações, não havendo compromisso de fé e se não há compromisso de fé claro que se faz a pergunta: o que vou lá fazer?).
Como está o meu pensamento e a minha disposição em cada celebração? A Eucaristia é para uma “seca” onde vou ouvir o padre que nunca mais se cala! É um “fardo” pesado que carrego porque me obrigam a ir lá para ter de ser um bom cristão?
Pois se há alguém que pensa assim, penso que está enganado! Na Eucaristia é Deus que fala ao coração (e mais ninguém)! Na Eucaristia faz-se o encontro com a Palavra e a Vida de Jesus! Na Eucaristia aprende-se a caminhar com mais coragem e mais esperança! E isto não sou eu que o digo, mas milhares de cristãos espalhados pelo mundo e por esta comunidade cristã concreta.
Nos primeiros tempos do cristianismo havia o bom hábito de que antes da Santa Ceia houvesse a repartição do pão material, e depois do espiritual. Mas esta partilha era feita em ângulos muito restritos: ricos para um lado, pobres para o outro, e mesmo dentro destas classes haviam divisões. Paulo lembra as palavras «Isto é o Meu Corpo entregue por Vós» para recordar àquela gente, e a todos nós, que na Eucaristia todos somos iguais, todos celebramos, partlihamos e vivemos. Por esta razão é que vale a pena ir à missa para aprendermos a partilhar as coisas mais simples: um olhar (um olhar vai mais do que mil palavras), um aperto de mão ou um abraço (que transmitem a coragem, amizade e força), um sorriso e um pedaço de pão!
Jesus não nos deixou nada seu, (nenhum objecto pessoal, as suas memórias, as suas sandálias) mas faz-se sempre presente no meu de nós como alimento, o alimento que não se coloca para ser contemplado, mas para ser comido.
Quem não participa verdadeiramente da comunhão eucarística (do alimento sagrado) é como quem aceita um anel de noivado, assume um compromisso, mas que o atraiço-a com outros amantes.
O Pão eucaristico é um dom (graça de Deus) e não um prémio para os melhores de todos, é alimento oferecido aos pecadores e não aos justos.
3. A Eucaristia é Ouvir Jesus
«Jesus acolheu as multidões e pôs-Se a falar-lhes...» anunciando o Reino de Deus. Mas será que vivemos o Reino de Deus nas nossas vidas ou estamos à espera dos “pozinhos mágicos” que para nos facilitarem a vida?
No evangelho de Lucas ouvimos que era já tarde a hora e aquela multidão estava cansada e com fome. Então os discípulos dizem a Jesus: «Manda a multidão embora para irem procurar alimento às aldeias». Queriam despachar o trabalho de lhes dar de comer, mas Jesus ordena-lhes que lhes deêm esles mesmo de comer, ou seja, Jesus quer que também nós tomemos iniciativas para cuidarmos bem uns dos outros.
Nas comunidades em que se encontrava S.Lucas, as Eucaristias eram celebradas sábado à noite, quando o sol se punha. É nesta hora que os díscipulos de Emaús entram em casa e põe a mesa e reconhecem Jesus no «partir do pão». E nós em que momento do nosso dia é que reconhecemos Jesus? Quantas vezes damos conta d’Ele?
Para que serve ir à missa? – para conhecer Jesus! Como fez Jesus na multiplicação dos pães, os cristãos só têm um modo de resolver a sua fome: pôr em comum! mesmo que pareça pouco.. Não se trata de dinheiro, mas de inteligência e força, de todas as capacidades e dons que Deus nos deu. Quando todas estas riquezas forem partilhadas e postas ao serviço de todos haverá abundância de tudo para todos. A Missa é um acto da comunidade porque Jesus não quer que o seu alimento seja tomado na solidão. No tempo e Lucas, a Eucaristia não era celebrada em Igrejas, mas em grandes salas, ficando deste modo, todos os fiéis atentos a este mistério sagrado. A fé cristã é fé para ser vivida em e na comunidade. A expressão “Eu cá tenho a minha fé” é errada e muito pobre, pois onde fica a frase de Jesus: “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome eu estarei no meio deles”?
Tomou os pães, levantou-os ao céu. É a forma que o celebrante usa na celebração eucarística. A Missa que não celebra o empenho da comunidade, é falsa. Toda a comunidade participa na celebração: ninguém se pode excluir de participar e dizer: “não sei” ou “não quero”. Porque queremos saber mais vimos ouvir a Palavra de Deus e vimos porque queremos, então sabemos sempre e queremos sempre!
«No fim foram recolhidos doze cestos», pois a Eucaristia começa aqui na Igreja ou em outro qualquer lugar onde possa ser celebrada e prolonga-se na vida.
1. Porque vou à missa? (obrigatório? não) Porque quero ouvir a Palavra de Deus.
2. O que vou lá fazer? (Nada? Não) Encontrar Jesus e os irmãos .
3. Vale a pena ir à missa? (não porque as pessoas falam mal umas das outras? Sim, mas) Vale porque encontro sempre um novo caminho a seguir.
4. Para que serve? (para ficar tudo na mesma?não, mas …) Para ser um novo rosto de Jesus no mundo.
(Podem existir algumas "gralhas" e haver incompreensão por quem possa ler esta reflexão, mas estou por aqui para responder a dúvidas ou reflexões)
1 comentário:
Padre Ângelo
não existe "gralhas",incompreensão,existe sim muito amor a Jesus Cristo e muita vontade de conduzir todas as Suas «ovelhas» para Jesus como bom Pastor.
Bem haja.
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