quinta-feira, dezembro 17, 2020

carta (w)


Senhor,... Tu sabes os tempos e os momentos... Os Teus tempos e momentos não são os meus, e por isso as "surpresas" fazem-se sentir a cada dia. Esta carta de hoje é só para dar graças e "refilar" um pouco. Dou graças pela vida que me tens concedido, pelas pessoas que comigo têm partilhado as suas vidas, mas hoje dou graças por me teres dado o pai, o meu pai. Tenho muitas coisas a gradecer pelo que ele me deu de vida, de conselhos, de presença, de amizade, mas acima de tudo de pai. Tu quiseste levá-lo num tempo que, para mim, achei demasiado cedo, porque ainda tinha tanta coisa a aprender e a partilhar com ele por cá... e sim, "refilo" conTigo porque, apesar de saber que os tempos e os momentos são Teus, Tu quiseste-o para Ti aí no Céu à quatro anos. Parece que foi hoje, de madrugada, que ouvi o que nem eu, nem ninguém, está preparado ou pensa chegar a ouvir. Pouco a pouco tive que me habituar à sua nova maneira de estar presente, que não é só na memória, mas é na vida feita com as suas palavras a ecoarem muitas vezes no coração e na alma. Se tenho alguma coisa a "refilar" conTigo, Senhor, é porque acho que me o tiraste daqui muito cedo, pois precisava e continuo a precisar dele aqui. E isto não tenho vergonha nem medo de Te o dizer. Mas dou graças. Dou graças pelas memórias de criança... que à noite, ali na terrinha, me ensinava as estrelas do céu (já foi à muitos anos, ainda sem haver a iluminação tão grande elas ruas da aldeia)... pela bicicleta que foi segurada pelas suas mãos durante algum tempo até começar a seguir nela sozinho... pelas aulas de condução particulares... pela paciência de me ensinar a prova dos nove... pela insistência em que eu cria-se gosto pela leitura e tivesse um curso... pela persistência para que eu crescesse e fosse "alguém na vida"... Não sei se me tornei ou estou a tornar naquela pessoa que gostarias que fosse, mas eu tenho um pouco o teu génio: digo o que penso, não guardo rancores, quando tenho um objetivo a cumprir, faço tudo por tudo para o alcançar, levando ao meu lado as pessoas que o querem alcançar, mas sempre sendo o primeiro a colocar as mãos na massa (não mandes, faz tu primeiro). Por tudo isto e muito mais, deixo de refilar, porque tenho muito para dar graças e trazer a sua vida na minha vida. Bem-haja, Senhor, deste-me a ele, e agora ele é todo Teu mas continua também a ser meu!...

sábado, dezembro 05, 2020

carta (v)



Neste momento, Senhor, passa-me pela cabeça pensar a fragilidade, da qual nós somos dotados. A fragilidade também é um dom? Parece-me que sim. Um dom que nem sempre se sente, vive e assume, pois baixa defesas, faz entrar em "campos desconhecidos" e enveredar por caminhos que podem ser espirais infinitas. Assim, hoje peno na minha fragilidade como dom. Fragilidade quando erro,... fragilidade quando tremo diante de uma decisão,... fragilidade física quando não se tem o poder de curar quem se ama,... fragilidade de querer ficar "escondido" de palavras e ações que são ofensas,... fragilidade nos passos que são dados quando se quer construir pontes de união,... fragilidade pura e simples de querer e não conseguir. De querer e não ter. De querer e não ver.

Por isto, Senhor, penso na fragilidade que Tu me deste como dom para encontrar a fortaleza e a coragem que Tu abres diante de mim (e de todos nós), também como dons. Chego à breve conclusão de que uns dons levam à descoberta de outros dons. Tudo é dom! Mas, Senhor, nesta minha simples confissão a Ti, penso na real fragilidade de tantos rostos que não entendem este dom e ficam assoberbados pelo "peso" do sentimento de pequenez, incapacidade e, por vezes, inferioridade. Tu ensinas a transformar o que parece ser nada em tudo. Por isto hoje te agradeço, porque na minha fragilidade, mesmo quando chego quase ao fundo, me mostras que ela é um para melhor ver a vida e encontrar caminhos! 

terça-feira, dezembro 01, 2020

carta (u)



 Muito tempo passou sem escrever-te, Senhor. Sinceramente, não sei a razão. Talvez porque falo mais do que escrevo. Talvez porque penso mais do que registo. Talvez porque o tempo não sobra. Muitos talvez... mas é certo que não Te esqueço. Estás tantas vezes no meu pensamento. Ralho contigo e depois ralho comigo. Peço- te a Luz para ver o caminho, mas por vezes não dou os passos (já com o caminho iluminado). 

Há tanta coisa que me passa... pela cabeça. Tanta,... mas tanta mesmo. Mas não gosto que passe só pela cabeça, mas que passe pelo coração. Quando a vida passa pelo coração é mais sentida. Sentida em todas as maneiras: na felicidade e na dor, na alegria e na tristeza, na serenidade e na tempestade. É muito mais sentida. Apesar de termos de viver longe, não podemos viver sem sentimentos e sem nos sentirmos uns aos outros. E isto sim, faz falta: sentirmo-nos uns aos outros. Se há coisa que me passa pela cabeça e pelo coração é a vida com sentimentos.

Sim, eu também sei, Senhor, que não sou a pessoa que mais mostra os sentimentos que dão o que muitos querem sentir. Sou tempestivo, frio e, às vezes, bruto, no trato com as pessoas. Continuo a respirar muito profundamente e pedir-Te que me serenes a alma e o coração. Por isto e muito mais te agradeço, porque sinto que Tu o fazes. Gosto de sentir que Tu me conchegas, não de uma forma egoísta (pensando que és só meu), mas é bom sentir que Tu estás presente. E olha, Senhor, nos últimos meses, muitas e muitas vezes tenho sentido a Tua mão e o Teu coração.

carta (t)

 


Passando por entre vozes, palavras
não é com intenção declarada que não ouço
as vociferações de quem só quer falar...
as reclamações de quem só quer achincalhar...
as palavras de quem só quer sentir...

Passando por entre turbilhões de pensamentos
é com intenção que muitas vezes os quero esquecer,
que quero fugir deles,
que quero esvaziar a mente, a alma e o coração...
são tantos... bons e mãos...
mas preciso de não tê-los!

Passando por entre cantos e orações
quero ficar neste lugar
porque é o lugar onde estou bem!
quero ficar assim quietinho
só para ouvir
só para falar conTigo
só para Te ouvir a Ti
só para palavrar o que me vem à cabeça!

Passando... passando pelo tempo
recordo as pessoas
recordo as memórias
recordo as palavras
recordo os gestos
recordo os lugares
recordo muitas coisas... 
simplesmente para Te dizer:
Aqui continuo a estar, dá-me o que quiseres! 

quarta-feira, janeiro 01, 2020

carta (s)

O primeiro dia de um novo ano é a oportunidade para ponderar na vida vivida e olhar o futuro com sonhos e esperanças. Nunca te pedi nada de especial, Senhor, Tu sabes. Neste dia o que Te peço, que para mim é muito especial, é a Tua Luz de Sabedoria e Vida, pois só com estas Luzes poderei fazer o caminho que Tu me colocares diante de mim. E sim, para este caminho vou precisar da coragem, da força e das Tuas mãos que vão continuar a amparar as quedas. 
No meio de todos os dias que vêm aí, há um temor que tenho: o mal. Tu ensinaste-nos a pedir-te: "livrai-nos do Mal", mas ele anda por aí e vai-se revelando das formas mais atrozes inimagináveis,... magoando,... destruindo,.. ferindo,... confundindo,... é este o meu segundo pedido, Senhor: livra-me de todo o mal, mostrando-me sempre o caminho do Bem e sabendo tomar as decisões que revelem a Luz do Teu rosto e a Salvação do Teu reino.
Neste primeiro dia do ano, recordo muitos rostos que deram luz à vida, outros rostos que partiram para a nova Luz e outros rostos que são o negro da vida,... Por todos estes rostos fiz hoje uma consagração de mim e de todos eles a Nossa Senhora, Mãe de Deus, Mãe da Igreja, nossa Mãe,... pedindo-lhe que com o seu coração de silêncio e de amor a todos toque, de modo a que os rostos de Luz sejam mais Luz e que os outros possam ver a Luz.
Senhor, o meu único propósito para este ano é: usar e abusar do coração, para que ele esteja no seu lugar, no pensamento, na boca e nas ações praticadas. Abençoa-me,Senhor, com a Tua Luz e ampara-me nas quedas!